Entrevista: O mangá para garotas e adolescentes de Natsuki Takaya está deixando os norte-americanos completamente apaixonados
Uma aura de cultura pop, talento e exclusividade tornam os artistas de mangá quase como estrelas de rock no Japão, e a manga-ka Natsuki Takaya pode agora se gabar de possuir toda uma nova geração de devotos ao redor do mundo. A criadora de Fruits Basket, um best-seller na América do Norte, estreou no início dos anos 90 na revista japonesa Hana to Yume (Flores e Sonhos) para se tornar nos anos seguintes uma das autoras mais importantes da indústria de shoujo mangá, criando mangas para mulheres que vendem em livrarias ao redor do mundo com o selo de editoras como a Tokyopop. Na primeira entrevista da autora para a mídia norte-americana, Coco Masters da Time conversa com Takaya (pseudónimo - nome verdadeiro é Naka Hatake) sobre suas experiências como autora de mangá, da série de TV CSI e o que faz do mangá mais do que desenhar personagens em uma página de papel.
TIME: O que te fez começar a se interessar por mangá?NT: Não foi nada específico, por si. Quando criança, porque os mangás estavam sempre a minha volta, eu lia e naturalmente pensava, “Ei, Eu gostaria de desenhar mangá – Eu quero ser manga-ka!”
TIME: Você já desenhou “doujinshi” (fanzine) ou trabalhou como assistente de algum manga-ka?NT: Antes e depois da minha estréia, eu ajudei outros manga-kas de tempos em tempos, mas nunca tive a experiência de ser exclusivamente assistente. Nem nunca publiquei doujinshi sozinha ou em grupo.
TIME: Como você define o mangá em termos de roteiro, personagens e estilo visual?NT: Eu tento fazer mangá de forma que eu não tenha que me guiar por uma definição fechada. Ao invés de me fechar em torno dela e tornar meus trabalhos rígidos e pouco criativos, eu prefiro que tudo tenha fluência – uma certa liberdade.
TIME: O que você acha das tentativas de não-japoneses em fazer mangá? Você considera esses trabalhos como mangá ou outra coisa?
NT: Colocando de forma simples e direta, eu fico feliz que o mangá seja uma forma de expressão em expansão. Eu não acho que a nacionalidade tenha algo a ver com o que fez a ascensão do mangá possível. Mesmo no Japão, os manga-kas estão fazendo suas séries todos os dias e elas exprimem a sua própria individualidade, e uma obra não é igual a outra. O que importa não são as diferenças entre os autores, mas seu amor pelo mangá.
TIME: o que inspirou o roteiro de Fruits Basket?NT: Me perguntaram isso várias vezes no passado, mas ainda hoje eu não tenho uma resposta muito clara para dar. Foi simplesmente alguma coisa que me ocorreu, durante o processo de viver por mim mesma (Sozinha? Longe da família? Ficou confuso para mim) – como “eu mesma”.
TIME: por quanto tempo mais você pretende continuar com Fruits Basket? Você está pronta para partir para outra coisa?NT: Eu planejo concluir a série este ano. Eu não vou dizer que estou particularmente triste em ver que a série caminha para o seu fechamento. Se eu não conseguir levar um projeto até o final, meu trabalho não vai se destacar por suas qualidades. Eu sempre quero ser capaz de desenhar novos projetos.
TIME: O que você mais gosta no trabalho de desenhar mangás?NT: Criar o plot, dar movimento às personagens e dividir os quadros. O storyboard é o que eu mais gosto de fazer.
TIME: Que tipo de livros e mangás você lê, e de onde você tira inspiração?NT: Eu gosto de dar uma olhada em trabalhos que eu nunca seria capaz de desenhar. Eu realmente gosto da série CSI, Las Vegas em especial. Ela é realmente interessante. Eu estou em um ponto em que estou considerando a possibilidade de comprar todos os episódios em DVD. Eu sou do tipo de pessoa que realmente não tem uma fonte específica de “inspiração”. Ela provavelmente vem das minhas dúvidas e desejos.
TIME: Você tem assistentes? E se tiver, diga se você tem que treiná-las em seu estilo de desenho e colorização?NT: Eu tenho duas. Não há nada em particular que eu ensine a elas, mas elas sempre são de grande auxílio para mim.
TIME: Fruits Basket tem um grande número de fãs nos EUA. Quais é a razão dessa popularidade em sua opinião?NT: Isso definitivamente me lisonjeia e agrada. Muito obrigada. Quanto a razão, eu não consigo distinguir uma claramente, mas as pessoas lêem o mangá e pensam “Eu gosto disso”, então isso somente é capaz de me alegrar.
TIME: Por que você acha que a popularidade do mangá vem crescendo fora do Japão?NT: Eu imagino se é somente porque o mangá está circulando mais pelo mundo do que antes? Se o mangá está sendo reconhecido por seus méritos como um meio capaz de expressão, então eu estou feliz como alguém que ama o mangá.
TIME: Como você acha que tem influenciado uma geração de garotas japonesas?NT: Como eu posso colocar, eu acho que meu trabalho tem um forte sentido de “tocar” muito mais do que “influenciar”.
TIME: O que você quer que seus leitores sintam ou compreendam da leitura do seu mangá?NT: Acima e além de desenhar minhas criações, eu tento incorporar algum tipo de mensagem. Eu tento não terminar com uma questão em aberto, mas oferecer uma conclusão para o meu trabalho. Além disso, eu tento não suplementar a compreensão com questões fora da própria série. Isso porque eu acredito que as leitoras são livres para responder ao trabalho da sua própria maneira e que isto é parte do prazer... Claro, que existem mal-entendidos sem intenção e que há coisas que ocasionalmente são confusas, mas sempre que possível, eu tento valorizar a sensibilidade de todas as leitoras.
Eu gostei de uma frase que a mangaka disse:
"Se eu não conseguir levar um projeto até o final, meu trabalho não vai se destacar por suas qualidades."
Isso fez-me lembrar Vampire Knight, e o quanto o manga se está a arrastar sem nada de especial, só para não terminar.....
O que vocês acham da entrevista?